Dos 8.500.000 Km2 do território brasileiro, nada menos de 5.000.000 devem-se à determinação de um grupo de exploradores que, actuando por conta própria e quase secretamente, enfrentaram os inúmeros perigos das selvas do recém-descoberto continente, em busca de riqueza.
A actuação continuada dos bandeirantes, e mesmo a sua ferocidade em estabelecer zonas em que exerciam o seu domínio sobre os índios, criou posteriormente o direito sobre as terras exploradas quando Portugal e a Espanha definiram, em 1777, os limites de seus territórios. A história desta epopeia é tão fascinante como uma lenda, pois, tal como nas lendas, muitas passagens não se alicerçam em relatos oficiais. Mas a história dos bandeirantes e das bandeiras, refere-se a um cometimento de tanta ousadia que poucos outros feitos poderão suplantá-lo.
Foram os bandeirantes os responsáveis pela ampliação do território brasileiro além do Tratado de Tordesilhas. Os bandeirantes penetram no território brasileiro, procurando índios para aprisionar e jazidas de ouro e diamantes. Foram os bandeirantes que encontraram as primeiras minas de ouro nas regiões de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.
Dos 08,5 milhões de Km2 do território do Brasil, cerca de 5 milhões devem-se à determinação de um grupo de exploradores que, actuando por própria conta e risco e, quase secretamente, enfrentaram os inúmeros perigos das selvas do Brasil, em busca de riqueza – Os "Bandeirantes" que saíram de São Paulo e de Belém do Pará.
Bandeirante é entendido hoje em dia como um sinónimo de paulista, mas, as bandeiras foram um fenómeno geral de expansão e ocupação de todo o território brasileiro na época colonial. E, embora o fulcro principal do bandeirismo tenha sido o aglomerado que surgiu em torno do Colégio dos Jesuítas, no planalto de Piratininga, e que o padre Manuel da Nóbrega, seu fundador, dedicou ao apóstolo São Paulo, existiu, na verdade, um outro núcleo importante em Belém, no Norte do Brasil. Houve, portanto, um bandeirismo paulista e um bandeirismo amazónico. O de São Paulo foi mais característico e estável; o do Pará, após a expansão inicial, frustrou-se. O nome mais importante do bandeirismo paulista é, inegavelmente, António Raposo Tavares, português de nascimento, ao contrário dos restantes, que eram mestiços. No bandeirismo amazónico, a figura mais impressionante e quase única é Pedro Teixeira, que subiu o Rio Amazonas até ao Marañon, no Peru. Aos bandeirantes paulistas deve-se a descoberta de ouro em Mato Grosso e Minas Gerais, a ocupação das terras situadas na bacia do Rio São Francisco, a destruição de um Estado formado por escravos fugidos, o Quilombo dos Palmares, em Alagoas e Pernambuco, o desbravamento e ocupação das terras interiores do Nordeste brasileiro até ao Piauí. Ambos os ciclos bandeirantes expandiram os limites do território brasileiro para além dos fixados pelo Tratado de Tordesilhas, de 07 de Junho de 1494, no qual Portugal e a Espanha dividiam entre si as terras situadas no Atlântico Sul. Nos termos deste tratado, a linha de fronteira luso- espanhola passava pelas proximidades das cidades de Cananeia, no Sul e, Belém, no Norte, deixando à Espanha praticamente toda a bacia amazónica, além da totalidade do território do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, dois terços do território de São Paulo, Goiás e nove décimos do Pará e todo o Amazonas, e grande parte de Minas Gerais, totalizando de 5,5 a 6 milhões de quilómetros quadrados. Esta grande extensão de terra foi incorporada ao território brasileiro pelo esforço gigantesco das bandeiras paulistas e amazónica. No Norte, os bandeirantes amazónicos utilizaram exclusivamente o sistema fluvial, guiados pelos índios arauaques. No Sul, os bandeirantes paulistas percorreram as trilhas e caminhos indígenas, guiados pelos índios tupis e tribos tupinizadas. O principal caminho, o Piabiru, estendia-se por cerca de 200 léguas de sesmaria pelo interior do continente, por aproximadamente 1.400 Km, ligando São Paulo, no litoral, ao Paraguai. Este foi o caminho desbravado primeiramente pelos jesuítas do Colégio de São Paulo para alcançar o Peru, e, depois, o caminho de internamento das bandeiras que buscavam guaranis pacificados das missões dos Jesuítas e os índios das tribos guaranizadas para vendê-los como escravos. Os índios arauaques, aliados dos bandeirantes na Amazónia, ocupavam uma extensa área que ia desde o Orenoco, pelo vale dos rios Amazonas, Madeira-Mamoré e Guaporé, até ao Alto e Médio Paraguai. Os Tupis-Guaranis adensavam-se na bacia do Rio da Prata e estendiam-se, aparentemente sem solução de continuidade, até à vasta zona geográfica das florestas tropicais húmidas, alcançando já em tempos históricos, a Ilha de Tupinabarana, em águas amazónicas. Essa grande extensão geográfica das culturas tupi-guaranis acarretava relações muito intensas entre as tribos, das quais a colonização portuguesa soube sabiamente tirar partido. A expansão bandeirante não pode ser explicada sem a constatação do aproveitamento das relações intertribais das culturas tupi-guarani e arauaque. Os Índios forneceram o conhecimento dos caminhos por terra da navegação pelos rios, desvendando ao colonizador a rede fluvial do Rio da Prata e do Amazona.
Os dois núcleos principais das bandeiras – São Paulo e Belém do Pará – não constituíam centros económicos importantes na vida da Colónia. Ambas as localidades se caracterizavam por uma economia de colecta e apresamento de mão-de-obra, vivia da bateia de ouro nos rios, constituindo esse ouro aluvial, depois dos escravos índios, a sua principal riqueza.
O pequeno povoado paulista, apertado pela Serra do Mar, via os seus rios nascerem a pequena distância do litoral, porém com o curso dirigido para o interior do sertão. Ao invés de descerem serra abaixo e desaguarem no mar, eles corriam sertão adentro, como o Rio Tietê, indicando, deste modo, a direcção às bandeiras paulistas. Atravessando o sertão selvagem, esses rios iam desaguar na bacia do Rio da Prata. Este papel geográfico dos rios paulistas, indicando aos bandeirantes o sertão de índios e riquezas fabulosos, foi a condição natural para o desempenho histórico das bandeiras, que conduziram a fronteira política do Império Português na América aos limites da bacia pratina. Nos fins do século XVl, os índios do planalto paulista e da costa do lagamar santista foram vencidos pela superioridade da colonização lusitana, escravizados ou posto em fuga, internando-se no sertão. Partiram de São Paulo as chamadas protobandeiras do misterioso Aleixo Garcia em 1526, de Pêro Logo em 1531 e de Cabeza de Vaca, em 1541. A primeira notícia mais ou menos oficial de uma bandeira operando com colonos e índios vicentinos data de 1562, dirigida por Brás Cubas (*) e Luís Martins, mas ignora-se o seu itinerário. Acredita-se que tenha percorrido cerca de 300 léguas de sertão e que teve por objectivo a busca de ouro, cujos vestígios só foram encontrados em Jeraguá, nas proximidades de São Paulo. Em outras regiões do Brasil iniciavam-se as entradas no sertão. De Ilhéus partiu Luís Alves Espinha em direcção a Oeste, de Pernambuco saíram Francisco de Caldas, Gaspar Dias de Taíde e Francisco Barbosa em direcção ao sertão do São Francisco. Data de 1538 o chamado ciclo das esmeraldas. De Porto Seguro partiu para o sertão Filipe Guilherme. Outras entradas conhecidas são as de Miguel Henriques, em 1550, de Francisco Bruza de Espiñosa, em 1554, ao vale do Jequitinhonha, Vasco Rodrigues Caldas, em 1561 ao sertão do Paraguaçu, Martim Carvalho em 1567 ao Norte de Minas Gerais e Sebastião Fernandes Tourinho, em 1572, aos rios Doce e Jequitinhonha. Em fins do século XVl, João Coelho de Sousa morria nas selvas das cabeceiras do Paraguaçu. Belchior Dias Moreira atingiu com a sua expedição a Chapada Diamantina.
Mas o facto extraordinário é que os bandeirantes, no seu percurso da bacia do Rio da Prata à bacia amazónica, navegaram em onze meses, 3 mil léguas, o equivalente a quase meia volta ao Mundo ! Partindo de São Paulo, a expedição rumou para o Paraguai, daí acercou-se da Cordilheira dos Andes através do sistema orográfico chiquitano, de onde alcançou a região dos índios chiriguanos. Explorou as faldas orientais dos Andes, regressando, em seguida, pelo Guapaí até à planície crucenha, de onde iniciou o fantástico trajecto fluvial pelo Guapaí, Mamoré, Madeira e Amazonas, onde alcançou a Gurupá. Portanto, iniciada em São Paulo, a bandeira de António Raposo chegou à bacia do Rio da Prata e os Andes Orientais, cruzando o divisor de águas amazónico-pratino, navegando nas águas do Amazonas e seus afluentes até ao Arquipélago Marajoana, no grande delta.
Utilizavam como meio de transporte, canoas escavadas de árvores, tal como construíam os índios. O processo de fabricação durava vários meses, pois, além de ser necessário que o tronco estivesse completamente seco, a sua escavação fazia-se com fogo – para robustecer a madeira e evitar que viesse a empenar – e mediante a raspagem cuidada do interior com enxós.
Por acção dos Bandeirantes, a pouco e pouco, as linhas de demarcação da ocupação da terra iriam consolidar-se numa nova configuração geográfica, empurrando para a bacia do Rio da Prata e velha linha do Tratado de Tordesilhas, Dando à Colónia Lusitana na América o traçado de onde iria surgir uma nova nação – o Brasil moderno, nascido monárquico e independente, e que cobre uma extensão territorial de 8.500.000 quilómetros quadrados !