Universal, abrangente, calorosa assim é a festa de Natal, que envolve a todos. Uma das mais coloridas celebrações da humanidade, é a maior festa da cristandade, da civilização surgida do cristianismo no Ocidente. Época em que toda a fantasia é permitida. Não há quem consiga ignorar a data por mais que conteste a importação norte-americana nos simbolismos: neve, Pai Natal vestido com roupa de lã e botas, castanhas, trenós, renas.
Até os que são anti-Natal acabam em concessões, um presentinho aqui, outro acolá. Uma estrelinha de Belém na porta de casa, uma luzinha, um mimo para marcar a celebração da vida, que é o autêntico sentido da festa. Independente do consumismo, tão marcante, o Natal mantém símbolos sagrados do dom, do mistério e da gratuidade.
Na origem, as comemorações festivas do ciclo natalício vêm da distante Idade Média, quando a Igreja Católica introduziu o Natal em substituição a uma festa mais antiga do Império Romano, a festa do deus Mitra, que anunciava a volta do Sol em pleno Inverno do Hemisfério Norte. A adoração a Mitra, divindade persa que se aliou ao sol para obter calor e luz em benefício das plantas, foi introduzida em Roma no último século antes de Cristo, tornando-se uma das religiões mais populares do Império.
A data conhecida pelos primeiros cristãos foi fixada pelo Papa Júlio 1º para o nascimento de Jesus Cristo como uma forma de atrair o interesse da população. Pouco a pouco o sentido cristão modelou e reinterpretou o Natal na forma e intenção. Conta a Bíblia que um anjo anunciou para Maria que ela daria a luz a Jesus, o filho de Deus. Na véspera do nascimento, o casal viajou de Nazaré para Belém, chegando na noite de Natal. Como não encontraram lugar para dormir, eles tiveram de ficar no estábulo de uma estalagem. E ali mesmo, entre bois e cabras, Jesus nasceu, sendo enrolado com panos e deitado em uma manjedoura.
Pastores que estavam próximos com seus rebanhos foram avisados por um anjo e visitaram o bebé. Três reis magos que viajavam há dias seguindo a estrela guia igualmente encontraram o lugar e ofereceram presentes ao menino: ouro, mirra e incenso. No retorno, espalharam a notícia de que havia nascido o filho de Deus.
O ciclo natalício inicia-se na véspera do Natal, 24 de Dezembro, e vai até o dia de Reis, 6 de Janeiro. Para acompanhar esse período, é preciso manter a ingenuidade de uma criancinha, a esperança de um amanhecer ensolarado, a ternura de um botão de rosas e a leveza de uma linda borboleta no ar. A emoção do povo é revelada nos folguedos natalícios através de sua ação dramática. Temos vários folguedos natalícios, como o pastoril, a castanhada, a cavalhada, alguns jogos, que fazem referências à Noite de Festas e ao grande dia em que Jesus nasceu. Desses folguedos, o mais tipicamente natalício é o pastoril religioso, que tem em sua essência a temática da visitação dos pastores ao estábulo de Belém onde Jesus nasceu.
Há registros sobre o pastoril desde da Idade Média. Em Portugal são conhecidas as peças de Juan de Encina e Gil Vicente, baseadas em temas populares anteriores, segundo o professor Roberto Benjamin. Como denominação popular do pastoril, temos a Lapinha, que desaparecera quase completamente, cedendo lugar aos pastoris. Câmara Cascudo descreve que a Lapinha "era representada na série dos pequeninos autos, diante do presépio, sem intercorrência de cenas alheias ao devocionário. Os presépios foram armados em Portugal desde 1391, quando as freiras do Salvador fizeram o primeiro." O presépio designa o estábulo ou o curral, lugar onde se recolhe o gado, e representa as cenas do nascimento de Jesus em Belém. Há também uma diferença terminológica decorrente de sua grandiosidade. Ou seja, se o era grande, rico e bonito, era chamado de Presépio; se era pobre, pequeno e despojado, era uma Lapinha.
Mas, o que ficou na tradição foi a queima da Lapinha, no dia 6 de Janeiro, pois só por volta do século XVI, três centúrias após a criação da simbologia do presépio, teve início a dramatização da cena da Natividade, com contos populares, danças e produção literária anónimas, como registra Geninha da Rosa Borges. Pereira da Costa relata que "o pastoril era, a princípio, a representação do drama hierático, o nascimento de Jesus Cristo, o presépio dos bailados e cantos próprios. Conta a lenda que São Francisco de Assis, querendo comemorar de maneira condigna o nascimento de Jesus, no ano de 1223, entendeu de fazer uma representação do maior acontecimento da Cristandade. Obteve licença do Papa e fez transportar para uma gruta um boi, um jumento e uma manjedoura, colocando o menino Jesus sobre a palha, ladeado pelas imagens de Nossa senhora e São José.
Dentro dessa gruta, celebrou uma missa, assistida por um grande número de frades e camponesas das redondezas. Durante o sermão, pronunciou as palavras do Evangelho: "colocou-o num presépio, apareceu-lhe nos braços um menino todo iluminado", e a partir daí, a representação dos presépios tornou-se comum e espalhou-se por todo o mundo. O aparecimento do presépio em Pernambuco vem, talvez, do século XVI, no Convento Franciscano em Olinda. Mário Souto Maior comenta que, "com o passar dos anos, o presépio, que era representação estática do nascimento de Jesus Cristo, até os fins do século VIII, começou a ter a sua forma animada pelas pastorinhas cantando loas, com a participação do velho, do "pedegueba". Câmara Cascudo define o pastoril como "cantos, louvações, loas, entoadas diante do presépio na noite do Natal, aguardando-se a missa da meia-noite. Representavam a visita dos pastores ao estábulo de Belém, ofertas, louvores, pedidos de bênção. Os grupos que cantavam vestiam-se de pastores, e ocorria a presença de elementos para uma nota de comicidade, o velho, o vilão, o saloio, o soldado, o marujo, etc. Os pastoris foram evoluindo para os autos, pequeninas peças de sentido apologético, com enredo próprio divididos em episódios que tomavam a denominação quinhentista de "jornadas" e ainda a mantêm no nordeste do Brasil..." Nas jornadas, que eram um grande atrativo do pastoril, realçava-se o estilo dramático, fazendo com que os partidários atirassem flores, lenços de seda e até chapéus.
O Pastoril tem como corpo principal o grupo de pastoras, subdividido em dois cordões (azul e encarnado). A Mestra dirige o cordão encarnado, e a Contra Mestra, o cordão azul. Há também o Anjo, o Pastor, o Velho - personagem cómico, originário provavelmente do pastor -; a Diana, que é a intermediária entre os dois cordões; a Borboleta, personagem faceira; a Jardineira, que canta e dança uma jornada em solo, referente às atividades da jardinagem; a Libertina, que é, em algumas variantes, a pastora tentada pelo Demónio; o Demónio ou Diabo, que vem tentar as pastoras; a Cigana, que representa o povo cigano que vem dizer o destino, a sorte de Jesus e que "às vezes, lê a sorte das pastoras e das pessoas da plateia, lendo a mão na tradição da buena dicha para recolher o dinheiro.
Trajando saias curtas e rodadas, e corpetes ou blusas brancas, e usando um diadema enfeitado com fitas, as pastoras, com toda a graciosidade, trazem na mão pandeirinhos ou maracás, adornados da mesma forma. O Anjo apresenta-se como um anjo de procissão, com asas de papel; a Cigana veste saia comprida e usa brincos, lenços, colares de moedas douradas; a Borboleta usa asas transparentes e antenas de papel colorido; e o Pastor utiliza um cajado.
Assistir a uma encenação do pastoril, que seduz e encanta, revelando de maneira maravilhosa a estonteante beleza do Ciclo Natalício, traduzida nos rostos das pastoras, é deslumbrar-se com um espetáculo único do povo brasileiro.
( Rúbia Lóssio é vinculada ao Centro de Estudos Folclóricos Mário Souto Maior e mestre pelo Curso de Mestrado em Administração Rural e Comunicação Rural da UFRPE)
Em Portugal, as comidas servidas são, basicamente as mesmas que estimularam a tradição brasileira. As donas-de-casa se esforçam para acertar no peru recheado, arroz de polvo, canja, carneiro com laranja, bacalhau, rabanadas e, vinho do porto, acompanhando as castanhas, figos e amêndoas.
Natal em Portugal
A tradição impõe o bacalhau e a carne de porco ou de peru nas mesas natalícias, seguidos da rica doçaria portuguesa. Mas também novos hábitos alimentares vão-se introduzindo nesta época, quando a reunião familiar é pretexto para experimentar outros sabores.
A abundância à mesa sempre foi característica do Natal, talvez para compensar outras épocas do ano em que a carência era a norma. Com as festas, vinham o bacalhau, a carne de porco ou de peru, o polvo e outras iguarias, seguida do bolo-rei, das broas e de muitos fritos, como rabanadas, filhós e sonhos.
Portugal, apesar de ser um país pequeno, tem tradições muito variadas de região para região. Os vinhos regionais portugueses acompanham com honra cada refeição. No entanto, os portugueses têm adotado como seus sabores de outros países, servindo-os como petiscos a consumir enquanto se trocam as prendas e as últimas novidades. É o caso do champanhe, dos patés e foie-gras e até do caviar, símbolo de opulência e bem viver que nos faz entrar no Ano Novo com o pé direito.
Segundo a tradição natalícia do Norte, na Consoada é servido o bacalhau cozido, acompanhado por couves portuguesas, batatas e ovos também cozidos, tudo bem regado com azeite. No almoço do dia de Natal, servem-se a canja de galinha e o polvo cozido com arroz, juntamente com as carnes de peru assado, leitão, borrego ou porco.
A mesa da doçaria é imponente e está sempre disponível para os mais gulosos. Rabanadas, sonhos, aletria, mexidos ou formigos, doces de ovos, bolo-rei e castanhas, além dos pinhões, nozes e vinho do Porto, que se estendem até às doze badaladas da passagem de ano, são as especialidades nortenhas.
A carne é indispensável na Ceia de Natal no Sul. Depois de uma sopa de feijão, é altura para as fatias de lombo com amêijoas ou para o porco frito com laranja. Alhada de cação, a canja de galinha, as migas de bacalhau e os enchidos de carne são típicos do Alentejo, enquanto o Algarve se distingue pela mistura de carne, peixe e marisco, seguidos de doces de amêndoa e batata doce. Entre os doces, estão o arroz doce e fritos como filhós, sonhos e borrachões, além de uma ceia composta por chocolate quente e bolinhos secos, bolo de massa de pão ou pedreneiras. As fatias douradas, a lampreia de ovos e os mais diversos doces de ovos, pão de rala, nogados, fritos de abóbora, pastéis de grão, arroz-doce, filhoses com açúcar ou mel são fruto da rica doçaria conventual alentejana.
Mas o prato principal da Ceia é o bacalhau cozido com batata, hortaliça, cebola e ovo. O bacalhau é selecionado e tudo é regado com o bom azeite português. A acompanhar o melhor vinho verde tinto que se guardou para esta altura. O segundo prato que é servido muito depois consta de arroz solto com polvo cozido. No fim são servidos os doces, acompanhados de vinho do Porto após o que toda a gente se diverte com jogos, anedotas e conversas. As crianças retiram os pinhões das pinhas que estiveram a assar.

O Bacalhau
(O nome bacalhau, de acordo com o Dicionário Universal da Língua Portuguesa, tem origem no latim baccalaureu. )
Mundialmente apreciado, a história do bacalhau é milenar. Existem registros de existirem fábricas para processamento do Bacalhau na Islândia e na Noruega no Século IX. Os Vikings são considerados os pioneiros na descoberta do cod gadus morhua, espécie que era farta nos mares que navegavam. Como não tinham sal, apenas secavam o peixe ao ar livre, até que perdesse quase a quinta parte de seu peso e endurecesse como uma tábua de madeira, para ser consumido aos pedaços nas longas viagens que faziam pelos oceanos.
Mas deve-se aos bascos, povo que habitava as duas vertentes dos Pirenéus Ocidentais, do lado da Espanha e da França, o comércio do bacalhau. Os bascos conheciam o sal e existem registros de que já no ano 1000, realizavam o comércio do bacalhau curado, salgado e seco. Foi na costa da Espanha, portanto, que o bacalhau começou a ser salgado e depois seco nas rochas, ao ar livre, para que o peixe fosse melhor conservado.
Devemos aos portugueses o reconhecimento por terem sido os primeiros a introduzir, na alimentação, este peixe precioso, universalmente conhecido e apreciado".
(Auguste Escoffier, chef-de-cuisine francês, 1903).
Os portugueses descobriram o bacalhau no século XV, na época das grandes navegações. Precisavam de produtos que não fossem perecíveis, que suportassem as longas viagens, que levavam às vezes mais de 3 meses de travessia pelo Atlântico.
Fizeram tentativas com vários peixes da costa portuguesa, mas foram encontrar o peixe ideal perto do Pólo Norte. Foram os portugueses os primeiros a ir pescar o bacalhau na Terra Nova ( Canadá ), que foi descoberta em 1497. Existem registros de que em 1508 o bacalhau correspondia a 10% do pescado comercializado em Portugal.
Já em 1596, no reinado de D. Manuel 1º, se mandava cobrar o dízimo da pescaria da Terra Nova nos portos de Entre Douro e Minho. Também pescavam o bacalhau na costa da África.
O bacalhau foi imediatamente incorporado aos hábitos alimentares e é até hoje uma de suas principais tradições. Os portugueses se tornaram os maiores consumidores de bacalhau do mundo, chamado por eles carinhosamente de "fiel amigo". Este termo carinhoso dá bem uma ideia do papel do bacalhau na alimentação dos portugueses.
"Os meus romances, no fundo, são franceses, como eu sou, em quase tudo, um francês – exceto num certo fundo sincero de tristeza lírica que é uma característica portuguesa, num gosto depravado pelo fadinho, e no justo amor do bacalhau de cebolada!"
Eça de Queiroz (carta a Oliveira Martins)
O bacalhau chegava a Portugal de várias formas. Até o meio do século XX, os próprios portugueses aventuravam-se pelos perigosos mares da Terra Nova, no Canadá, para a pesca do bacalhau.
"Nos finais do séc. XIX, as embarcações portuguesas enviadas à pesca do Bacalhau eram de madeira e à vela, sendo praticada a pesca à linha. Tratava-se de uma prática muito trabalhosa, apenas rentável em regiões onde abundava o peixe. Este tipo de pesca era praticado a partir dos dóri: pequenas embarcações de fundo chato e tabuado rincado, introduzidas em Portugal nos finais do século passado."( Extraído de Apontamentos Etnográficos de Aveiro - Universidade de Aveiro - http://www.dlc.ua.pt/etnografia).
O artigo de Teresa Reis, sobre a Pesca do Bacalhau, retrata um pouco desta aventura:
"Na pesca do bacalhau, tudo era duplamente complicado. Maus tratos, má comida, má dormida...Trabalhavam vinte horas, com quatro horas de descanso e isto, durante seis meses. A fragilidade das embarcações ameaçava a vida dos tripulantes" dizia Mário Neto, um pescador que viveu estes episódios e pode falar deles com conhecimento de causa.
Quando chegava à Terra Nova ou Groenlândia, o navio ancorava e largava os botes. Os pescadores saíam do navio às quatro da manhã e só regressavam à mesma hora do dia seguinte, com ou sem peixe e uma mínima refeição: chá num termo, pão e peixe frito. No navio, o bacalhau era preparado até às duas ou três da manhã. Às cinco ou seis horas retomava-se a mesma faina. Isto, dias e dias a fio, rodeados apenas de mar e céu. ... Vidas duras!"
O bacalhau no Brasil - Herança dos portugueses Pratos feitos com o bacalhau não são feitos somente na Semana Santa como muitos pensam. O Natal também é uma data eleita pelos apreciadores da iguaria.
Isso tudo começou com origem numa tradição portuguesa, um de nossos principais colonizadores. A corte portuguesa arraigou a tradição culinária, no Brasil, no século XIX, época em que aconteceu a primeira exportação oficial de bacalhau da Noruega para o Brasil, em 1843.
Os portugueses obedeciam a cultura religiosa de que, em períodos santos, os cristãos deveriam obedecer os dias de jejum (Quarta-Feira de Cinzas e todas as Sextas e Sábados da Quaresma, nas Quartas, Sextas e Sábados das Têmperas, às vésperas do Pentecostes, da Assunção, de Todos-os-Santos e do dia de Natal), excluindo de sua dieta alimentar as carnes consideradas "quentes", como as carnes vermelhas. O bacalhau era uma comida "fria".
Com o passar dos tempos, os dias de jejum foram diminuindo, mas os pratos feitos com bacalhau mantêm-se fortes em Portugal e no Brasil, mesmo que durante os feriados cristãos o preço do bacalhau aumente consideravelmente.
Fonte: www.bacalhau.com
Tipos de bacalhau
Do Porto:
Existem duas espécies. O Cod Gadus morhua, considerado o mais nobre, possui postas altas e largas. Quando o peixe é salgado, a sua coloração é clara e uniforme. Depois de cozido, a carne do bacalhau torna-se macia e desmancha-se em fatias claras. Já a outra espécie, Cod Gadus macrocephalus, possui a carne mais clara e não se desfaz em pedaços, mas é facilmente desfiada.
Saithe:
É mais escuro e tem sabor forte. Ao ser cozido, desfia-se de forma simples. Perfeito para fazer bolinhos, saladas e ensopados.
Ling:
Carne branca e o peixe é mais estreito. Muito usado no preparo de assados, cozidos e grelhados.
Zarbo:
É o bacalhau menor de todos. Usado em pratos desfiados, caldos, pirões e bolinhos.
Fonte: bacalhau.com
O peru também é tradicional do Natal
O peru na ceia de Natal foi introduzido na Europa pelos espanhóis no século XVI, substituindo, nas mesas mais modestas, as aves mais caras como o faisão ou o cisne. O hábito se difundiu pela Europa sendo reintroduzido na América.

Noite Feliz, noite feliz.
O Natal deveria ser uma época de sonho, de alegria, de Auto doação, de caridade, de amor, enfim, de felicidade. Deveria ser uma época em que todas as pessoas pensassem apenas em ser boas, em ajudarem aos outros, em sorrirem, em falarem palavras doces, em serem amáveis. A ocupação principal dos cristãos deveria ser cantar hinos de louvor a Deus pelo nascimento de Jesus, lerem a história desse maravilhoso acontecimento que mudou o curso da história da humanidade, e agradecerem a Deus pelo Maior Presente de Natal que a humanidade já recebeu - a própria pessoa de JESUS, o Deus Menino. Houve tempos em que o Natal era assim, todos se preparavam, durante o mês de Dezembro, para comemorar o Natal da maneira mais pura possível.
O Natal é, sem dúvida, uma das celebrações mais complexas do calendário português, no qual se observam elementos de cultos solsticiais e dos mortos, cerimónias da liturgia cristã comemorativas do nascimento de Jesus Cristo, entre outros.
Atualmente, devido a uma crescente globalização, o Natal português começa a ser influenciado por outras culturas, sobretudo através dos filmes americanos, um dos factos que comprova este tendência é a substituição do Menino Jesus pelo Pai Natal na entrega dos presentes; os tradicionais presépios, que representam o nascimento de Cristo (e que constituem um dos motivos mais notórios da estatuária popular portuguesa) têm agora de coexistir com a árvore de Natal, de origem certamente germânica. Contudo, isto não quer dizer que as tradições natalícias portuguesas desapareceram!
"Missa do Galo": O Natal, segundo das leis canónicas (leis ditadas pela Igreja), deve ser composto por 4 missas: a vigília noturna, a da meia-noite, a da aurora e por fim a da manhã.
Contudo, em termos práticos, não se conseguem celebrar as 4 vigílias, sendo normalmente dispensada a da noite e a da aurora. Assim, a primeira missa celebrada no Natal é a da meia-noite.
A missa celebrada à meia-noite, na passagem do dia 24 para o dia 25 de Dezembro, denomina-se de Missa do Galo. Esta apareceu no século V, pelas mãos dos católicos romanos.
Em relação a esta missa surgem duas questões: Saber o porquê da missa ser celebrada à meia-noite. Saber a razão pela qual esta missa é chamada de missa do galo.
No que se refere à primeira questão, à razão pela qual a missa é celebrada à meia-noite, parte-se da seguinte ideia:
Já que nesta missa se celebra o nascimento de Cristo, ela deve ser celebrada à mesma hora do nascimento Deste. Ora, como se pensa que Jesus terá nascido à meia-noite, a missa deve ser celebrada à meia-noite em ponto.
A segunda questão cria maior discórdia, existem várias teorias que tentam explicar qual o motivo denominação de missa do galo.
A explicação mais comum é a da lenda que conta que o galo foi o primeiro animal a presenciar o nascimento de Jesus, por isso ficou com a missão de anunciar ao mundo o nascimento de Cristo, através do seu canto.
Até ao início do século XX, a tradição ditava a meia-noite era anunciada, dentro da igreja, através do canto de um galo, real ou simulado.
No seu início, a missa do galo era uma celebração jubilosa, longe do carácter solene que existe nos dias de hoje.
Até princípios do século XX, manteve-se o costume do privilégio de serem os primeiros a adorarem o Menino Jesus estar reservado aos pastores congregados ali. Durante a adoração ao Menino, as mulheres depositavam doces caseiros e em troca recebiam pão bento ou pão do Natal. Outro costume era o de se guardar um pedaço desse pão bento como amuleto, ao qual só se podia recorrer em caso de doença grave.
Uma tradição que existia em algumas aldeias portuguesas e espanholas, era o de se levar um galo para a Missa do Galo, se este cantasse era um prenúncio de boas colheitas para esse ano.
Com o advento do regime republicano e com a falta de párocos em muitas freguesias, fizeram com que a Missa do Galo começa-se a cair em desuso.
Em França, as Missas do Galo mais famosas, como a de Nôtre Dame e a de Saint Germain dês Prés, são muito concorridas, nestas é necessário reservar lugar com bastante antecedência, até porque durante a noite de Natal, também há apresentações de belos programas de música sacra.
Nota: Erradamente, alguns atribuem a S. Francisco de Assis a criação da Missa do Galo. Contudo, a existência desta é muito anterior à época na qual S. Francisco viveu (no século XIII)
Pai Natal - A Árvore do Natal Existem várias teorias para explicar porquê o pinheiro se tornou a árvore símbolo do natal, na maioria dos países onde este se comemora:
Conta a história, que quando Jesus nasceu, perto do estábulo onde ele se abrigava, havia três árvores que resolveram também presenteá-lo. A palmeira escolheu a maior e mais bela palma, e fez dela um abano para o menino. A oliveira ofereceu o suave e perfumado óleo, para amaciar os pés do menino. E finalmente, o pinheiro, já tristemente conformado com a ideia de que não tinha nada a oferecer, pois suas folhas eram como agulhas, e poderiam machucar o menino, percebe que muitas estrelas tinham pousado em seus galhos, iluminando-o de tal forma, que o olhar de Jesus não podia resistir à beleza desta arvore, (por isso até hoje o pinheiro é enfeitado com muitas luzes).
Alguns autores atribuem a existência da árvore de Natal, anterior ao cristianismo.
Na Saturnália (festival realizado no Inverno em homenagem a Saturno, deus da agricultura), os romanos enfeitavam suas casas com pinheiros.
Diz a lenda, que o pinheiro foi escolhido como símbolo do Natal, devido à sua forma triangular, onde se representa a Santíssima Trindade.
A árvore de Natal, no contexto em que se insere hoje, tem sua primeira referência registrada em Strasbourg, Alemanha, no século XVI, quando todas as famílias, independente do seu poder aquisitivo, decoravam os pinheiros com papeis coloridos, frutas e doces. Após espalhar-se por toda a Europa, esta tradição chega ao continente americano em 1800.
A rainha Elizabete, da Inglaterra, por ocasião do Natal em que oferecia uma grande festa, e recebia numerosos presentes, pediu que estes fossem depositados em baixo de um pinheiro que havia no jardim.
O pinheiro é a única árvore que não perde as suas folhas, seja qual for a época do ano.

A História do Vinho
Na Bíblia menciona-se pela primeira vez a videira: «Noé plantou a vinha e tendo bebido do seu vinho, embriagou-se». As alusões que a ela se fazem, tanto no Antigo como no Novo Testamento, são numerosas.
A historia da vinha encontra-se ligada desde a mais remota antiguidade à da mitologia oriental, especialmente à de Baco, que, a partir da Ásia, irradiou-se para o Egipto, Trácia (hoje, sul da Bulgária) e países mediterrâneos. A adoração de Baco pelos iniciados ia além da simples veneração devida ao criador e protetor da videira. Na sua conceção inicial, Baco apareceu como una espécie de divindade suprema. Porém, logo que se descobriu o seu carácter, seu culto se desenvolveu para todo o seu lado mundano: a celebração da vinha e do vinho. Em Atenas dedicaram-lhe festas especiais. Procissões e espetáculos dramáticos tomavam um dia por ano totalmente dedicado a Baco.
Quanto aos Bacanais, estes nasceram provavelmente no Egipto, de onde passaram para a Grécia e mais tarde para Roma com um inusitado carácter de orgia, a tal ponto que os poderes públicos decretaram a sua suspensão em 186 a.C.
A dedicação da vinha a uma divindade, a importância que se lhe dá nas escrituras bíblicas assim como o prestígio do vinho, presente em tantas cerimónias religiosas e profanas, levou ao desenvolvimento de uma iconografia riquíssima e de grande valor documental. :
Nos baixos-relevos assírios, nas pinturas funerárias egípcias e nas tábuas achadas em Cartago, Túnis e Marrocos, encontram-se referências à videira e ao vinho.
Os achados, tanto em terra como no fundo dos mares, de numerosíssimos vestígios, são testemunhos que se somam às infinitas provas que enchem os museus, palácios, templos antigos, catedrais, mosteiros e castelos.
O vinho ocupa um posto de honra na literatura de todos os tempos. Homero já citava, séculos antes de Jesus Cristo, alguns vinhos de renome na antiga Grécia. Dá detalhes referentes até à maneira de beber. A lista dos poetas que no decorrer dos séculos se inspiraram no vinho e, como Virgílio, contribuíram para a sua historia, é interminável. Encontramos informações preciosas e completas em verdadeiros tratados de agricultura em que se descrevem todas as práticas vinícolas que se realizam hoje em dia: saibra, plantação, adubação, enxertos, poda, etc., assim como a vinificação.
Graças a certos autores como o poeta Hesíodo, os historiadores Herodoto e Jenofonte e o geógrafo Estrabão, conhecemos exatamente como estiveram repartidos os vinhedos na Antiguidade. Na Ásia prosperavam sobre as margens do golfo Pérsico, na Babilónia, na Assíria, no litoral dos mares Cáspio, Negro e Egeu, na Síria e na Fenícia. Palestina, pátria da fabulosa descendência de Canaã, possuía una gama de vinhos de grande reputação que provinham de plantas selecionadas e cultivadas com esmero segundo os métodos que havia estabelecido a lei hebraica.